quinta-feira, janeiro 05, 2006

Enxergando longe


Desde pequena (o que eu, na verdade, nunca fui) percebi que não seria perfeita. Gostava de brincar de carrinho, pique-esconde e futebol. Nunca tive Barbie, a não ser uma que sabia andar de bicicleta.
Na escola, fazia amizades com meninos e nunca tive jeito para brincar de casinha. Gostava de ler o que quer que me cruzasse as vistas. Sempre mais alta que qualquer pessoa da mesma idade, ganhei o lugar cativo de “última da fila” e nunca hasteei a bandeira do Brasil quando tocava o hino pátrio na escola. Quase todo mundo gostava da Maria Cristina. Outros da Marina. Alguns, da Camila. Para mim, sobrava um apelido: GODZILA. Não tinha raiva, preferia ser o monstrinho a abrir mão das minhas molecagens. aceitei então a pecha...
Cresci assim, meio sem-eira-nem-beira. Por influência de um amigo, um dos poucos que fiz na meninice, comecei a ler sobre dinossauros e a fazer experimentos com o “Pequeno Cientista”. Depois de algum tempo, vi que minha praia era mesmo os sentimentos.
Tinha visão de raio-X e às vezes me incomodava com o meu sexto-sentido. Sabia o que as pessoas estavam pensando. Notava cada detalhe, cada gesto, cada olhar, cada esforço e cada palavra não dita. Passei a me interessar por pessoas. Descobri desde então que minha maior riqueza é saber apreciar o diferente. O inusitado. O estranho. A tímida. O encabulado. O cult. A “de vida fácil”.
Aprendi cedo a ter olhos de poeta e desde então tirei os óculos da racionalidade.
Decidi então que me entregaria ao vento e que deixaria que ele decidisse a direção das minhas palavras.
E ele deu sua sentença: O verdadeiro poeta sabe desumanizar-se de humano e amar-se de profano.

Nenhum comentário: